Pedagogia Espírita e sua Prática
Tempo de Leitura da Matéria: 16 minutos
Autora: Daniela Andreaça de Paulo
MATRÍCULAS 2025
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Autora: Daniela Andreaça de Paulo
RESUMO
A pedagogia espírita surge com a filosofia de Allan Kardec com a ideia de inserção da espiritualidade na educação e o conhecimento de um ser humano reencarnado. Com influências pedagógicas de Comenius, Rousseau e Pestalozzi.
As primeiras práticas da pedagogia espírita no Brasil foram observadas com professor Eurípedes Barsanulfo (1880- 1918) e Anália Franco (1853- 1919) e seus sucessores , que além das práticas documentaram o conceito, foram Ney Lobo (1919- 2012), Pedro de Camargo (1878- 1966), José Herculano Pires (1914- 1979), Tomás Novelino (1901- 2000) , Maria Aparecida Rebêlo Novelino (1914- 1990) e Dora Incontri. A consolidação da teoria e do movimento da pedagogia espírita aconteceu em 2004 com a criação da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, para estimular a pesquisa e a prática pedagógica.
O termo Pedagogia Espírita surge do processo de compreensão e reflexão sobre a educação para um ser transcendental, evidenciando a existência do espírito e as suas múltiplas vidas.
A Escola de Pedagogia Espírita Professor Eurípedes Barsanulfo de Batatais-SP surge em 2010 com concepção de ser humano transcendente e reencarnante é inspirada as práticas do Professor Eurípedes Barsanulfo no Colégio Allan Kardec de Sacramento 1907 e estudos de pesquisas da Dora Incontri (pesquisadora, educadora, jornalista e escritora).
Palavras - chaves: Espiritualidade universal, crítica, concepção de ser humano transcendente e reencarnante e práticas pedagógicas.
1- INTRODUÇÃO
Kardec apresenta a ciência espírita junto a filosofia, os estudos contínuos e progressistas levam a compreensão de uma prática contemporânea, as necessidades da criança do seu tempo. Todos os filósofos e educadores, Comenius, Rousseau e Pestalozzi que inspiram a pedagogia espírita, trazem conceitos atuais como espiritualidade, naturalidade, liberdade e amor.
Como uma pedagogia em construção, a Escola de Pedagogia Espírita Professor Eurípedes Barsanulfo de Batatais não deixa de dialogar com educadores de pensamentos inovadores como: John Dewey (1859- 1952) que percebe o protagonismo do aluno em seu processo de educação; Maria Montessori (1870- 1952) a autoeducação, educação como ciência, educação cósmica, ambiente preparado, adulto preparado e criança equilibrada, na individualidade e liberdade do aluno; Rudolf Steiner (1861- 1925) por acreditar que as crianças deviam desenvolver livremente, de maneira integral, o desenvolvimento físico, sensível e intelectual e baseava na antroposofia, conhecida também como ciência espiritual ; Célestin Freinet (1896- 1966) acreditava na escola como um espaço democrático, livre de contradições sociais e com práticas de estudo de campo (aulas passeios), cantinhos pedagógicos e trocas de correspondências dos alunos entre as escolas; Jean Piaget (1896- 1980) com estudo sobre a forma como a criança constrói o conhecimento; Emilia Ferreiro com o estudo dos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita; Lev Vigotski (1896- 1934) com a aprendizagem mediada, modificando a relação professor e aluno, estratégias de como aproximar o aluno do conhecimento; Carl Rogers apresentava o educador como um facilitador do aprendizado e para que a relação professor e aluno se estabeleça; Paulo Freire (1921- 1997) com uma perspectiva da educação como missão para conscientizar o aluno, sobre o olhar de valorização dos saberes individuais, atrelados a representatividade e empoderamento do indivíduo. Além de outros grandes nomes de educadores brasileiros: Anísio Teixeira (1900-1971), Darcy Ribeiro (1922-1997), Maria Nilde Mascellani (1931-1999), Florestan Fernandes (1920-1995), Miguel Arroyo e Jaqueline Moll, fundamentais para a construção e entendimento da escola integral, que são referências nacional e internacional, que levam em conta não apenas o componente curricular, mas o pleno desenvolvimento dos educandos.
Os aspectos que caracterizaram a prática da Pedagogia Espírita, tais como; apresentar e desenvolver o aprendizado com conhecimento e transformação do ser espiritual, crítico, transcendente e reencarnante sempre estiveram presentes nas metodologias de Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Ney Lobo, Pedro de Camargo, José Herculano Pires e Tomás Novelino.
A escola de Pedagogia Espírita Professor Eurípedes Barsanulfo de Batatais, conduz suas práticas pedagógicas com os mesmo aspectos de todos os educadores espíritas, para uma educação transformadora do ser espiritual. A metodologia da proposta pedagógica está pautada em todas citadas acima e segue uma estrutura de prática a todas disciplinas e conteúdos.
A Inspiração e reflexão sobre a perspectiva espiritualizada de educar e transformar vidas, nos impulsiona de maneira corajosa e prazerosa a uma prática reformadora da educação.
A pedagogia espírita visa os princípios de:
Amor
Liberdade
Igualdade com singularidade
Naturalidade
Educação ativa
Educação integral
2- INSPIRAÇÃO A METODOLOGIA ESPÍRITA
A escola de Pedagogia Espírita Professor Eurípedes Barsanulfo tem como prática uma rotina diária que inicia com yoga, pranayamas (técnicas de respiração) e ásanas (posturas da yoga) no espaço aberto com árvores e fonte (com barulhinho de água e pássaros), a chegada dos alunos nessa atmosfera harmoniza todos e aumenta o tempo de concentração para iniciar os estudos.
O material elaborado pela equipe multidisciplinar da escola segue três etapas metodológicas. A primeira é apresentar ao aluno o conteúdo, esse contato pode ser fora ou dentro da escola, o aluno é levado a observar no cotidiano esse conhecimento. Na segunda parte, começam a leitura de textos e realizações de atividades, além de pesquisas. Por último, a terceira etapa, depois do conhecimento assimilado, é discutido como apresentar em práticas aos colegas da escola para a promoção da reflexão, discussão e ideias de ações positivas de mudanças na sociedade.
Essas apresentações e práticas dos conteúdos também aproximam os alunos da natureza e o quanto necessitam de conscientizar dos seus benefícios e ações de preservação. Atividades como horta comunitária, com alimentos orgânicos e plantas medicinais, são elaboradas e manuseadas por todos os alunos, cada nível de aprendizado participa com diferentes metodologias. Também aprendem como preparar esses alimentos para o consumo, como chás, saladas, sopas, doces (sem adição de açúcar),pães, bolos e outros. O cuidado com a limpeza na comunidade escolar e com os materiais para reciclagem e compostagem também são campanhas constantes dos alunos (mutirões de limpeza para conscientização e prevenção contra a dengue, animais sinantrópicos e o cuidado com o solo).
A realização de campanhas solidárias (entrega de roupas, agasalhos, brinquedos); promoção de práticas integradas (yoga, meditação, visita ao asilo levando música e dança); intervenções culturais [festa do dia das criança realizada na rua; livros voadores (presentear a cidade com livros)], são promovidas durante todo o ano letivo, e são enfatizadas principalmente nos finais dos semestres com a Semana Cultural, onde todas essas atividades acontecem durante os três períodos, trazendo a comunidade escolar ao universo de estudos e práticas, com participação de pesquisadores, estudiosos e profissionais do tema apresentado.
A matriz curricular contém disciplinas da parte diversificada como meditação, redação, cálculo mental, leitura e interpretação e eletivas como astronomia e educação dos sentimentos, onde o conhecimento e os estudos se expandem para além da esfera do nosso planeta.
3- REFLEXÕES E PRÁTICAS
A pedagogia espírita, portanto, propõe-se a retomar um caminho em que as conquistas das pesquisas psicológicas e pedagógicas dos últimos séculos possam se abrir para a dimensão espiritual da criança e do ser humano, deixando essa dimensão de ser apenas um pressuposto, para ganhar consistência científica. Isso porque o próprio espiritismo inaugurou-se no século XIX, como proposta de integração entre espiritualidade e pesquisa empírica, entre ciência e articulação filosófica do conhecimento, com consequências éticas. (Incontri, 2010 pág-.)
A estrutura metodológica pedagógica é pautada dentro de uma concepção de um ser transcendental. O espírito traz uma bagagem de conhecimentos muitas vezes não concebida e nunca acessada. A importância do olhar sensível do educador, identificar traumas, aflições, dificuldades, habilidades e aptidões é de extrema importância, pois é necessário identificar as dificuldades para criar estratégias e se necessário intervenções durante o processo de ensino aprendizagem e além de levar o conhecimento com temas de interesse ao aluno, assim o aprendizado passa a ser mais interessante e prazeroso. Por isso o material didático é organizado em projetos de estudo e projetos escolares.
Esse modelo de escola leva a repensar a estrutura escolar, pois o trabalho é muito individualizado, podendo atender no máximo 16 alunos por grupo. Os educadores precisam de uma rotina de estudos e orientações psicopedagógicas para juntos organizarem estratégias metodológicas, para aproximar os alunos ao conhecimento, atendendo as dificuldades e anseios, além de anotações em prontuários pedagógicos (registros das dificuldades e pretensões, as observações do comportamento e informações que a criança traz nos seus diálogos relevantes), organizações de portfólios e contato constante com a família e outros profissionais. O espaço também deve ser pensado, para proporcionar uma imersão à natureza, ao conhecimento e às culturas.
A avaliação escolar deve ser por conceito e diagnóstica, pois segue o programa estabelecido no início do ano letivo que fornece suporte, com intervenções e estratégicas específicas, quando se evidencia uma dificuldade constante no nível de aproveitamento do aluno. Os dados coletados de anos anteriores ou quando a criança é inserida aos pré-requisitos são necessários para a continuidade do programa e as causas de possíveis dificuldades servem de assuntos de interesse que auxiliam a criação de uma aprendizagem significativa. As informações obtidas auxiliam na previsão de futuras dificuldades e guiam a escolha de conteúdos e de estratégias de ensino mais adequadas. Então é elaborado um perfil individual do aluno, com informações sobre os conhecimentos prévios diagnosticados (portfólio). Todo o conteúdo é avaliado conforme o processo de aprendizagem, os tipos de avaliações dos conteúdos são: Informal; holística; qualitativa; contínua; quantitativa, porém não é dito aos alunos sobre o dia da avaliação, apenas interagem e participam, porque tudo que participam e realizam faz parte do processo avaliativo, para uma intervenção necessária, ou mesmo, para bons diálogos e um fruir do conhecimento.
O aluno com essa metodologia de trabalho passa ser ativo no seu aprender, o estudo dos valores e os projetos promovem o comprometimento e o interesse torna o aluno responsável e autônomo no seu aprender, consciente, humanizado e pleno de suas inteligências.
Pais e educadores podem utilizar de práticas da pedagogia espírita, quando em suas ações inserirem o respeito, à liberdade e o amor, todo o conhecimento é acessado, o vínculo afetivo, sem medo ou tensões, desbloqueiam as dificuldades e a criança ou adolescente se abre para o aprender.
Regrinhas básicas para esses três ingredientes; respeito- liberdade- amor:
Não chamar atenção na frente dos outros, sempre que a criança precisar de orientações fale em particular;
Ouvir as opiniões, sugestões e falas da criança;
Estimular o aprendizado com temas que a criança gosta;
Apresentar as sugestões da criança, ou dando o momento para criança se manifestar;
Interagir e participar das ações em brincadeiras, atividades e outros momentos, com atenção e carinho;
Valorizar as manifestações, participações, todo o conhecimento;
Dar autonomia e participatividade nos afazeres e decisões de organização (rotina, do espaço, dos materiais e ideias);
Observar e estudar as manifestações e questionamentos das crianças.
A valorização e o respeito no aprendizado fortalece e incentiva todos envolvidos, crianças, família, educadores e comunidade escolar a uma prática humanizada e de busca do conhecimento.
4- REFERÊNCIAS
Práticas e observações da Escola de Pedagogia Espírita Professor de Eurípedes Barsanulfo de Batatais
INCONTRI, Dora Educação e Espiritualidade - Interfaces e Perspectivas. Editora Comenius, 2010.
INCONTRI, Dora. A Educação Segundo o Espiritismo. Editora Comenius, 1997
INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita: Um Projeto Brasileiro e suas Raízes. Editora Comenius, 2004
FREIRE, Paulo.Educação como prática de Liberdade. editora Paz e Terra, 1967
https://educacaointegral.org.br/ publicado 03/01/2017- por redação.
Fim da Matéria